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20 novembro, 2009
Comer bem e viver melhor
Todos ansiamos por mezinhas mágicas que nos tragam saúde e vitalidade. A receita, começa no prato seguindo as regras básicas da tabela dos alimentos. Apostemos a variedade e moderação.
A alimentação deve ser o primeiro medicamento, já dizia Hipócrates, o pai da medicina moderna. E a pertinência desta afirmação não deixa de ser sublinhada nos dias que correm. Queremos receitas mágicas para estar em forma, ter energia física e mental para aguentarmos o stresse do dia-a-dia e fazer em 24 horas o que achamos que só conseguimos fazer em 48 horas. E pensamos que a solução está em socorrermo-nos de frasquinhos ou caixinhas com pós ou comprimidos milagrosos. Mas é melhor pararmos um pouco para pensar e verificar que, se calhar, o primeiro passo começa com uma regra básica: pegar na roda dos alimentos quando elaboramos a lista de compras. Actualizada tem cerca de três anos e faz parte do programa escolar.
A ideia é sublinhada por Alexandra Bento , presidente da associação portuguesa de nutricionistas: “alimentação nas várias fases deve seguir o mesmo princípio: ser saudável, segundo as orientações da roda alimentar”. Olhamos para a pirâmide e vemos que na sua base estão os cereais. É neles que encontramos o combústivel básico para o dia-a-dia. “Os hidratos de carbono são grandes fornecedores de energia”, lembra a fisiologista Teresa Branco, da Clínica Metabólica. A sua ingestão “permite ao cérebro funcionar em plenitude” e a sua ausência “promove o cansaço cerebral e diminui as capacidades cognitivas em qualquer idade”.
Mas se os nossos tecidos, músculos e órgãos necessitam de hidratos de carbono para desempenhar as suas funções em condições, não o fazem sem vitaminas, minerais e proteínas. Ou seja, além do trigo, milho, centeio, aveia, precisamos de fruta, de vegetais (de preferência verdes escuros) e de leguminosas como o feijão, o grão ou as lentilhas para termos uma alimentação equilibrada. Se a estes alimentos acrescentarmos frutos secos, como sugere Cláudia Minderico, do Centro de alto rendimento, obtemos também ácidos gordos essenciais.
A receita é partilhada por Francisco Varatojo, nutricionista e director do instituto Macrobiótico, para quem os cereais integrais, os vegetais e as leguminosas são os três alimentos de oiro de uma dieta alimentar equilibrada e potenciadora de vitalidade. “Devem é ser consumidos a todas as refeições”, sublinha o especialista, que diz não lhe faltar vitalidade nem virilidade apesar de há 30 anos não consumir carne. Não nos devemos esquecer que “as células precisam de açúcar para funcionar e que a melhor glicose é a que vamos buscar ao hidratos de carbono complexos ou integrais que se desdobram lentamente e nos tornam corredores de maratona”, explica Varatojo.
Reza a história que se não fossem os cereais como o trigo-sarraceno os seus hidratos de carbono, os russos não teriam derrotado as tropas de Napoleão. No Leste chamam a este trigo kasha e no Oriente fazem dele uma massa a que dão o nome de soba. As capacidades energéticas deste alimento devem-se à sua riqueza em fibra, magnésio, cobre e manganésio.
Por seu lado, a endocrinologista Isabel do Carmo tem as suas próprias receitas douradas da infância à velhice: “Comer cinco porções de fruta e legumes frescos por dia”, soltos, em acompanhamento ou transformados em sopa. E não esquecer que a variedade é o tempero da vida.
Certo é que nenhum dos especialistas contactados pelo Expresso coloca a carne como sendo um dos três alimentos da lista essencial. E todos falam da importância dos cereais, sobretudo dos integrais, que permitem uma absorção mais lenta da energia, mas que em contrapartida nos dão uma vitalidade mais duradoura.
Além disso, “os alimentos deste grupo proporcionam os hidratos de carbono melhor adaptados aos humanos (os amidos). E fornecem também quantidades apreciáveis de fibra alimentar, vitaminas e minerais”, acrescenta Alexandra Branco. Ou seja, são completos e saudáveis, enquanto o arroz ou o pão branco (fabricados com farinhas finas) “ficam muito desfalcados de minerais e vitaminas, contribuindo para o empobrecimento nutricional da ração”.
Em relação aos vegetais, há regras básicas para que deles obtenhamos as suas propriedades por inteiro: nunca os comprar cortados e pré-lavados. Como conselho final, deixamos uma observação de Francisco Varatojo: “As pessoas querem mezinhas, mas se continuarem com uma vida desalinhada estas receitas não funcionam”.
Revista Única. Expresso #1932 7 de Novembro 2009
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